Recomeçar aos 80: Por que me mudei para outro país




Num momento da vida em que muitos esperam que você desacelere, sente-se e se renda ao declínio, eu decidi fazer o oposto — mudei de país. Aos 80 anos, escolhi recomeçar: em uma nova terra, com um novo idioma e um ritmo de vida completamente diferente. Não porque fosse fácil, mas porque era necessário — para o meu espírito, para o meu crescimento e para meu próprio senso do que ainda é possível na vida.

Costumamos associar o envelhecimento à perda — da mobilidade, da memória, da relevância. Mas eu vejo o envelhecimento como uma oportunidade de expansão, não de retração. Sim, quando o corpo desacelera, a mente pode acompanhá-lo — se permitirmos. Mas eu não quero permitir. Acredito que mesmo em nossos anos mais avançados, podemos continuar nos desafiando, mantendo a curiosidade e permanecendo abertos à conexão. Mudar de país é a minha forma de me recusar a aceitar limitações.

Alguns podem chamar de imprudência. Eu chamo de coragem. Porque não estou apenas provando aos outros que a vida pode começar de novo em qualquer idade — estou provando isso para mim mesma.

Recomeçar aos 80 não significa começar do zero. Trago comigo uma vida inteira de experiências, amor, aprendizado, perdas, curas e alegrias. Já percorri muitos capítulos — criei uma família, viajei pelo mundo, construí uma carreira, formei um lar. Mas percebi que o conforto, às vezes, pode silenciosamente se transformar em estagnação. E eu não queria cair nessa resignação silenciosa que nos faz parar de esperar algo novo da vida.

Então, arrumei minhas coisas, me despedi e dei um passo em direção ao desconhecido.

Nem sempre é glamoroso. Existem momentos de profunda vulnerabilidade — pedir ajuda para entender uma palavra, lidar com normas culturais diferentes, sentir falta do cheiro familiar de casa. Tropeço no idioma, às vezes literalmente. Mas cada nova palavra que aprendo é um pequeno ato de desafio contra a ideia de que “cachorro velho não aprende truque novo”. Eu aprendo porque quero continuar viva no sentido mais profundo da palavra.

Tive que encontrar um novo supermercado, novos vizinhos, novas rotinas. Tudo o que eu fazia automaticamente agora exige esforço e atenção. Mas esse é o presente: nada é tomado como garantido. O ordinário se torna extraordinário quando precisamos reconstruí-lo do zero.

E há algo de humilde, até mesmo belo, em ser iniciante novamente.

Neste novo país, vi como a gentileza transcende o idioma, como a curiosidade constrói pontes, e como a idade não é uma barreira — a menos que sejamos nós a construí-la. Conheci pessoas que não me veem como uma senhora idosa, mas como uma companheira de jornada, uma aprendiz, uma amiga. E, de certa forma, lembro a elas — talvez silenciosamente — que nunca é tarde demais para se reinventar, se mudar, viver plenamente.

Essa mudança não é uma negação da velhice — é uma declaração de que envelhecer pode ser um ato ativo, não passivo. Pode ser cheio de reinvenções, não apenas de reflexões. Continuo valorizando as alegrias silenciosas: uma xícara de chá, uma ligação da família, um bom livro. Mas também escolho ultrapassar meus próprios limites, porque acredito que é isso que mantém a alma jovem.

O que aprendi é o seguinte: o verdadeiro desafio do envelhecimento não está no número de anos que carregamos, mas em como os carregamos. Nós os carregamos como pesos ou como asas?

Eu escolho asas.

Se você está lendo isso e se perguntando se já é tarde demais para fazer algo corajoso, deixe-me dizer — não é. Você não precisa se mudar para o outro lado do mundo. Às vezes, a coragem se revela ao aprender algo novo, entrar em um novo grupo ou iniciar uma nova conversa. Mas se há uma voz dentro de você sussurrando que ainda há mais vida esperando — escute. Essa voz é esperança. Essa voz é vitalidade.

Aos 80, escolhi confiar nela.
E nunca me senti tão viva. 

Como voce se sente ao iniciar um Novo capítulo aos 80 anos? Compartilhe seus planos de mudança  nos comentários - a idade é apenas um número!


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