Como Nos Vemos ao Envelhecer

 

Às vezes é difícil para mim acreditar que tenho 80 anos. Não me sinto com essa idade, nem em espírito, nem em energia, nem na minha visão de vida. Minha boa saúde e disposição geral reforçam essa sensação de juventude. E, no entanto, o calendário diz o contrário. Esse contraste entre como nos sentimos por dentro e como a sociedade muitas vezes enxerga o envelhecimento pode gerar um conflito silencioso dentro de nós, especialmente para mulheres que cresceram em culturas que valorizam a juventude, a pele lisa e os corpos esbeltos.

O envelhecimento traz mudanças físicas inevitáveis: cabelos grisalhos, pele mais macia, passos mais lentos e, sim, rugas. Para algumas mulheres, essas transformações podem abalar a autoimagem. Conheço muitas que, depois dos 70 anos, começaram aos poucos a evitar o espelho, não por descuido, mas porque deixaram de enxergar beleza em seu reflexo. Muitas vezes, sentem-se invisíveis em um mundo que idolatra a juventude e ignora a sabedoria dos mais velhos.

Mas acredito que precisamos mudar essa narrativa. Envelhecer não deve ser sinônimo de perder valor ou beleza. Pelo contrário, é uma evolução de ambos, de formas mais profundas e significativas. Cada ruga em meu rosto conta uma história. As linhas suaves ao redor da boca falam de risadas, reuniões de família, momentos de alegria, gargalhadas e crises de riso com amigas. Os pés de galinha perto dos olhos são sinais de muitos sorrisos, de anos vividos apreciando as pequenas maravilhas da vida.

Na verdade, nossos rostos tornam-se um mapa da nossa jornada. Eles registram as estações que vivemos: amor, luto, conquistas, desafios e a sabedoria adquirida. Em vez de esconder esses sinais, escolho honrá-los. O envelhecimento não me diminuiu. Ele me ampliou. Tornei-me mais rica em compaixão, mais firme em minhas convicções e mais livre em minha expressão. Essas qualidades não aparecem no espelho, mas se manifestam na maneira como me porto e me conecto com os outros.

É verdade, no entanto, que aceitar um corpo que envelhece exige uma mudança mental e emocional. À medida que nosso corpo muda, precisamos nos adaptar. O que antes era fácil pode agora exigir intenção e paciência. Mas isso não é uma perda  é uma transformação. Aprendi a tratar meu corpo com mais gentileza. Caminho todos os dias, o alimento com comidas saudáveis e lhe dou o descanso que merece. Esses atos não são vaidade; são respeito pelo corpo que me sustentou por oito décadas.

Uma das bênçãos de envelhecer é a libertação de muitas inseguranças que nos assombravam na juventude. Quando somos jovens, nos preocupamos demais com a opinião alheia, nossa aparência, nossas conquistas, nosso status. Mas com a idade vem uma confiança silenciosa. Passamos a nos enxergar com mais clareza e a nos amar com mais plenitude. Já não preciso da aprovação dos outros para validar meu valor. Eu vivi, eu aprendi e eu sou suficiente.

Ainda assim, o desafio permanece: como nós, mulheres mais velhas, podemos resgatar nossa imagem em uma sociedade que tantas vezes nos marginaliza? Acredito que tudo começa com a forma como nos vemos. Se continuarmos a reconhecer e afirmar nossa beleza interior e exterior, enviamos uma mensagem poderosa a nós mesmas e aos que nos cercam. Tornamo-nos modelos para as gerações mais jovens, mostrando que envelhecer não é algo a temer, mas a abraçar.

Também ajuda estarmos cercadas de pessoas que celebram essa fase da vida. A amizade, a comunidade e conversas significativas nos mantêm conectadas e vibrantes. Compartilhar histórias, rir de experiências comuns e apoiar umas às outras nos altos e baixos da vida nos lembra que nunca estamos sozinhas nessa jornada.

Devemos ainda nutrir nossa vida interior. A reflexão, a criatividade, o crescimento espiritual e a curiosidade são essenciais à medida que envelhecemos. Eles mantêm nossa mente alerta e nossa alma inspirada. Seja por meio da escrita, da pintura, da dança ou simplesmente sentando em silêncio na natureza, podemos continuar descobrindo beleza em nós mesmas e no mundo ao nosso redor.

Chegar aos 80 e sentir-se viva é um presente. Ver-me não apenas como uma mulher idosa, mas como um ser humano completo e em constante evolução, é uma perspectiva que conquistei e da qual me orgulho. Devemos nos lembrar: não estamos desaparecendo. Estamos brilhando de forma diferente com a luz da experiência, o brilho da resiliência e o esplendor de uma vida bem vivida.

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